Assim como todos os países que exportam produtos e serviços para os Estados Unidos, o Brasil também foi afetado pelas novas sobretaxas comerciais anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump. No caso brasileiro, as tarifas representam um aumento de 10% sobre diversos produtos.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e lidera as negociações com o governo norte-americano para tentar flexibilizar a medida, disse, nesta terça-feira, 6, que o impacto imediato deve ser amenizado — ao menos no fluxo de comércio — pelo bom desempenho do agronegócio. “Neste ano, o agro fará a diferença e dará um enorme empuxo devido à colheita recorde, que deve se confirmar porque o clima ajudou”, afirmou Alckmin.
A declaração foi dada durante encontro com a Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), que reúne 205 dos 513 deputados e 46 dos 81 senadores. Representantes de setores produtivos, como os das indústrias têxtil e madeireira, também cobraram ações do governo para mitigar os impactos do tarifaço.
Em resposta, a FPE ajudou a aprovar no Congresso, em tramitação acelerada, uma Lei de Reciprocidade Tributária e Ambiental, criada às vésperas da entrada em vigor das tarifas norte-americanas. A lei autoriza o governo brasileiro a impor taxas extras sobre produtos oriundos de países que adotem barreiras tarifárias contra o Brasil. A medida foi interpretada como uma resposta do Parlamento brasileiro ao protecionismo dos EUA. No entanto, segundo Alckmin, o dispositivo não será usado por enquanto. O governo aposta no diálogo e na defesa do livre comércio baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), além de medidas contra a concorrência desleal.
Um dos setores mais preocupados é o madeireiro, especialmente no Sul do Brasil. Devido ao clima, as árvores brasileiras atingem o ponto de corte entre 10 e 20 anos antes do que ocorre nos EUA ou na Europa, o que torna o país um fornecedor competitivo. Contudo, a chamada Seção 232 do Departamento de Comércio dos EUA permite a imposição de sobretaxas de até 25% sobre produtos importados considerados sensíveis à segurança nacional — o que pode afetar diretamente as exportações brasileiras de madeira. Segundo lideranças do setor, mais de 3,5 milhões de empregos estariam em risco apenas no estado do Paraná, onde a indústria madeireira tem forte vocação exportadora para os EUA.
O setor têxtil também demonstrou forte preocupação. Embora o Brasil possua uma indústria têxtil robusta, o segmento é liderado globalmente pela China. Como o Brasil é a 7ª maior economia do mundo e o 5º país mais populoso, torna-se um mercado estratégico para os produtos chineses. Alckmin destacou que o governo está atento a todas as etapas da cadeia produtiva e prometeu agir caso os têxteis chineses comecem a ocupar excessivamente o mercado brasileiro, em prejuízo da indústria nacional.
Durante o encontro, Alckmin ainda ressaltou o empenho do governo brasileiro para concluir o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que ainda depende de aprovação. O tratado é visto como uma alternativa multilateral viável diante das possíveis restrições impostas pelo mercado norte-americano às exportações do Brasil.
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